Entenda a operação que levou Alexandre Pires a ser investigado pela PF

Entenda a operação que levou Alexandre Pires a ser investigado pela PF


Empresário do cantor é apontado com um dos responsáveis pelo núcleo financeiro do crime. Alexandre Pires teria recebido cerca de R$ 1 milhão

Porto Velho, RO - O cantor Alexandre Pires foi alvo de busca e apreensão da Polícia Federal (PF) nessa segunda-feira (4/12). Foram mais de dois anos de investigação para apontar o intérprete de “Essa Tal Liberdade” como suspeito em um esquema de garimpo ilegal em Terras Indígenas Yanomami (TIY).

Em janeiro de 2022, a PF identificou 30 toneladas de cassiterita extraídas do território indígena na sede de uma empresa investigada. O minério era preparado para o envio ao exterior.

Apelidada de “ouro negro”, a cassiterita permite a extração de estanho, usado inclusive para fabricação de telas de celular e de outros aparelhos eletrônicos, de acordo com a PF. Em média, uma tonelada vale US$ 40 mil. Ao todo, a organização criminosa teria movimentado R$ 250 milhões.

Veja imagens de garimpo ilegal em Terras Indígenas Yanomami:

Em sobrevoo realizado em maio de 2020, em Roraima, Greenpeace registrou invasão de garimpeiros na Terra Indígena Yanomami. O desmatamento nas terras indígenas aumentou 64% nos primeiros quatro meses de 2020, em comparação com o mesmo período de 2019. Por estarem dentro ou circulando por esses territórios, garimpeiros, madeireiros e invasores são potenciais transmissores da Covid-19 para os indígenas. Chico Batata/Greenpeace


Imagem de garimpo Ascom/Ibama

O inquérito policial revelou esquema voltado para “lavagem” de cassiterita. O minério seria retirado ilegalmente da terra Yanomami, mas era declarado como originário de um garimpo regular no Rio Tapajós, em Itaituba (PA), supostamente transportado a Roraima para tratamento.

À época, a PF identificou transações financeiras que envolviam toda a cadeia produtiva do esquema, com participação de pilotos de aeronaves, além do auxílio de postos de combustíveis, lojas de máquinas, equipamentos para mineração e “laranjas”, para encobrir movimentações fraudulentas.

Um dos responsáveis pelo núcleo financeiro dos crimes é o conhecido empresário Matheus Possebon, influente no ramo musical. Ele é um dos executivos da Opus Entretenimento, que gerencia a carreira de diversos famosos, como Daniel, Seu Jorge, Ana Carolina, Munhoz e Mariano, entre outros. Possebon também se arrisca nesse cenário e já gravou canções em estúdios internacionais.

No catálogo de artistas, ainda está o cantor Alexandre Pires, que é investigado por participação no esquema. O pagodeiro teria recebido ao menos R$ 1 milhão de uma mineradora alvo da PF.

Operação

Com o objetivo de desarticular o esquema de financiamento e logística do garimpo ilegal, a Operação Disco de Ouro cumpriu mandado de busca e apreensão contra o músico, que se apresentava em um cruzeiro, em Santos.

As equipes cumpriram dois mandados de prisão, bem como seis de busca e apreensão, expedidos pela 4ª Vara Federal da Seção Judiciária de Roraima, em Boa Vista (RR), Mucajaí (RR), São Paulo (SP), Santos (SP), Santarém (PA), Uberlândia (MG) e Itapema (SC). A Justiça determinou, ainda, o sequestro de mais de R$ 130 milhões em bens dos suspeitos.

Alexandre Pires

Em 1989, o cantor Alexandre Pires fundou o grupo de pagode romântico Só Pra Contrariar. A carreira como vocalista — até sair do grupo, no início dos anos 2000 — deu fama ao artista. Entre os sucessos do SPC, destacam-se “Sai da minha Aba”, “Depois do Prazer” e “Que Se Chama Amor”.

O Metrópoles entrou em contato com a assessoria do cantor Alexandre Pires, mas até o momento não houve resposta. O espaço segue aberto para possível manifestação.


Reprodução/ Redes Sociais

Um preso a cada 4 dias

A Polícia Federal (PF) prende em flagrante, em média, uma pessoa a cada quatro dias por crimes de mineração ilegal, o que inclui o garimpo ilegal, além de outras fases desse mercado, como o transporte e a venda desse minério, conforme o Metrópoles revelou em agosto deste ano.

Os dados da PF mostram que, no ano de 2019, a quantidade de prisões em flagrante por mineração mais que dobrou, registrando aumento de 108,77%. Já em 2022, houve queda de 46,81% no número de presos pela PF por esse tipo de crime.

Essas estatísticas da PF sobre as prisões em flagrante por esse tipo de crime são referentes a 2019 e 2022 – apenas dados desses anos foram disponibilizados para a reportagem.

Em março de 2023, em uma blitz, a Polícia Rodoviária Federal (PRF) de São Paulo identificou 20 toneladas de cassiterita sendo transportadas. A carga apreendida foi avaliada em R$ 3 milhões.
O motorista, de 37 anos, receberia R$ 110 mil pelo frete. A carga teria saído de Boa Vista (RR) e sido extraída da reserva Uraricoera. Ele e o passageiro, também de 37 anos, foram presos em flagrante por transporte de minério extraído ilegalmente. Ambos já tinham passagens pela polícia.

Fonte: Metropoles

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