Como a base de apoio mais dura de Bolsonaro reagiu ao resultado do primeiro turno

Como a base de apoio mais dura de Bolsonaro reagiu ao resultado do primeiro turno

 

Entusiasmo, sarcasmo contra institutos de pesquisa e denúncias infundadas de fraude: a trajetória de uma apuração

Porto Velho, RO -
 Eram 18h07 quando o site do TSE , que até então tinha 1,99% do total de votos apurados, ficou alguns minutos sem atualizar sua contagem. Naquele momento, o presidente Jair Bolsonaro tinha 48,81% dos votos válidos apurados, contra 41,46% de Luiz Inácio Lula da Silva.

A pausa foi suficiente para que surgissem dúvidas entre seus apoiadores. “15 minutos de pausa sem apuração no TSE… Começou a malandragem”, escreveu no Twitter Bernardo Küster, um ex-aluno do escritor e ideólogo Olavo de Carvalho, que, tal como seu antigo professor, hoje também atua como analista política ultraconservador.

Até aquele momento, o sentimento geral entre os defensores mais ardorosos de Bolsonaro nas redes sociais era de euforia com os números acima das previsões dos institutos de pesquisas. Os seus apoiadores combinavam mensagens com a expectativa de uma vitória no primeiro turno com ataques diversos contra as sondagens.

“Se mantiver esse ritmo inicial, Bolsonaro vai vencer no primeiro turno”, publicou a página Família Direita Brasil, uma das maiores que defendem o presidente atualmente em atuação no Twitter.

A subida de Lula, conforme a apuração avançava, faria suspeitas de fraude se tornarem mais comuns. Muitos apoiadores passaram, então, a combinar as críticas às sondagens a denúncias sem qualquer evidência de que haveria uma conspiração em curso, ampliando suspeitas alimentadas pelo próprio presidente ao longo de meses.

No domingo, o próprio presidente não foi um dos que fomentaram suspeitas e aparentemente demonstrou reconhecer o resultado.

Isto não impediu seus apoiadores, contudo, de agirem assim por conta própria. Um dos seus principais argumentos era que muitos aliados de Bolsonaro tinham sido eleitos — muitos deles, para cargos legislativos, e não majoritários — mas não o próprio.

O próprio Küster foi neste sentido: “No mínimo estranho. Em Minas, Zema tem 58% dos votos e Bolsonaro está perdendo pra Lula mesmo assim?”, escreveu, ignorando que o fenômeno do voto Zema-Lula, especificamente, fora detectado há semanas, e que os institutos acertaram o índice do atual governador.

Outros, como Paulo Figueiredo Filho, neto do último ditador do regime militar, atacou os institutos de pesquisa, mas pareceu não comprar a hipótese de fraude eleitoral:

“É urgente alguém começar AGORA um levantamento dos fracassos dos institutos de pesquisa”, ele escreveu, pouco antes de insinuar que discordava das denúncias sem provas. “Vou deixar muito seguidor chateado nos próximos dias desfazendo teorias da conspiração infundadas. Gosto só das teorias da conspiração fundadas. Mas nunca me arrependi de não vender ilusões para vocês e apresentar os fatos duros da vida como ela é”, escreveu.

Os ataques contra as sondagens devem continuar nas próximas semanas, e podem repercutir no Congresso. Reeleito com mais de 110 mil votos, o deputado federal Carlos Jordy (PL-RJ) não falou em fraude, mas criticou os institutos, e prometeu que irá investigá-los na Câmara.

“Coletarei assinaturas para a CPI dos institutos de pesquisas. Não é mais aceitável resultados tão bizarros e discrepantes da realidade quanto os do DataFolha e Ipec. Chega de fraude para induzir o eleitorado!”, escreveu.


Fonte: O GLOBO

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